Fomos, Somos e Seremos sempre pacientes, em todos os sentidos, mas o principal é o conceito de paciente dado pela saúde, aquele em que somos tachados de doentes, enfermos, fracos, dependentes de algo ou de alguém, usuários, clientes, mas sempre Pacientes.
Alguns anos atrás essa palavra era simplesmente ouvida por mim quando necessário, ou seja, quando ia em alguma consulta, ou emergência médica, ou acompanhava algum parente doente. Quando decidi ser profissional da saúde me deparei com esse termo por diversas vezes durante minha formação acadêmica, mas ele era sempre relacionado a alguém que precisava de algo, seja atenção, atendimento, procedimentos. Em outros momentos era dito apenas usuário, cliente, mas em raríssimos momentos ouvi a palavra paciente relacionada ao SER HUMANO, aquele que como eu ou como você tem necessidades além da cura de uma doença, de ser apenas manuseado para alívio de uma dor física, ou qualquer outra coisa que possa ser realizada entre quatro paredes por um profissional de saúde.
Ao chegar ao 4º ano de minha formação comecei a ter contato direto com o tal Paciente, e comecei a me ver em cada um deles, porque cada um que passava deixava algo valioso comigo, e levava algo de mim também, mas nesse momento eram apenas aulas, então o vínculo não era tao bem firmado, ao final desse ano consegui conhecer alguém muito especial, a primeira paciente com quem firmei um vínculo, nos encontramos apenas por 3x, mas parecíamos ser amigas a muito tempo, ao final desses 3 encontros me senti mal por ter que sair da vida dela daquela forma tão abrupta, mas necessária, afinal, eu precisava começar outras aulas naquele mesmo horário.... enfim, fiquei com o coração partido, mas segui mesmo assim, e nunca pensei que estava fazendo uma coisa anti ética ou me envolvendo demais com um Paciente, poque a partir do momento que alguém se abre com você, essa pessoa confiou em você e te deu algo dela.
Bom, cheguei ao 5º ano, onde finalmente teria contato direto com os Pacientes e iria finalmente poder ficar com ele durante um maior período de tempo (processo que ainda estou passando), e aí fui de cara pro mesmo local que conheci a Paciente1, mas em dias diferentes do que ela estava, e neste lugar fiz novos Amigos, pessoas queridas que em todos os encontros faziam com que eu me sentisse amada e respeitada, então eu sempre fiz de tudo pra retribuir tamanho carinho. Um belo dia, reencontrei Paciente1, parecia que nunca havíamos deixado de nos falar, conversamos, rimos e nos despedimos, sempre com a vontade de tentar ajudá-la o máximo possível. Além deste lugar de estágio fui mandada pra comunidade, onde também conheci pessoas maravilhosas, uma em Especial, Dona X., que no primeiro encontro me abriu um sorriso e me recebeu de peito aberto, ela tinha muitos problemas de saúde, era uma pessoa muito debilitada, e por isso recebia atendimento domiciliar meu e de uma colega às sextas-feiras, quase toda sexta era uma folia, conversávamos, dividíamos histórias, fazíamos atividades, e em algumas vezes até levei bolo pra ela, estava ali uma relação maravilhosa, ela sempre dava um jeito de fugir da atividade pra conversarmos mais. Então o fim chegou, tivemos que nos despedir de Dona X, mas o fizemos com muito amor e dedicação, a levamos pra igreja, onde a muito não ia devido suas limitações, foi uma manhã de muita emoção e felicidade. Apesar de ter sido nosso último encontro e ter ficado a sensação de que poderíamos ter feito mais, sinto que fizemos o possível, e até um pouco do impossível pra tentar melhorar os dias de Dona X... Outro grupo então começou a atendê-la, e fofa como era, contou pra eles o que havíamos feito, e fez até mais, falou de mim algumas vezes fazendo fofoca, e eu nunca me senti tão feliz em saber que alguém andava fazendo fofoca de mim, porque senti que ela não havia me esquecido...
Dona X. faleceu hoje, recebi essa notícia como uma bomba, mesmo sabendo de todas as suas limitações e tudo que ela sofria, eu gostaria de tê-la visto mais uma vez, pelo menos pra dizer que não a esqueci como ela não me esqueceu, e dizer que jamais verei um Paciente apenas como Paciente, e que ela com suas fofocas sobre mim me deu motivação a tratar meus pacientes cada vez mais como seres humanos, pessoas dignas e inteligentes, que têm limitações porque a vida os fez assim, e não por serem inferiores ou nada do tipo...
Ser profissional da Saúde não me tira o direito de conhecer pessoas, fazer amizades e amá-las como meus próximos... Eu sei que como hoje, poderei ficar triste por outras partidas... Mas eu quero correr o risco.
É dessa sensibilidade que o sistema de saúde(público ou privado) está precisando. Parabéns por ser a profissional que demonstra ser.
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